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CINEDBT - “DANIEL, O TIGRE”: uma análise a partir da Terapia Comportamental Dialética

  • Carolina Fernandes Ferreira
  • 28 de jan. de 2021
  • 6 min de leitura

Atualizado: 20 de abr. de 2021

A qualidade da interação entre pais e filhos permite o fortalecimento do vínculo de confiança e intimidade, sendo um papel que pode ser desenvolvido pelos pais de indicar sobre a função das emoções, permitindo o desenvolvimento da regulação emocional satisfatória e efetiva dos filhos. As emoções permitem a comunicação entre pares, consigo mesmo e motivam para a ação; e a regulação emocional controla, inibe ou modifica as respostas emocionais.

A partir de trechos de alguns episódios do desenho “Daniel, o tigre” podemos ter exemplos de como os pais podem validar as emoções e orientar as crianças para a solução de problemas, além de modelagem comportamental, reforçando o comportamento desejado, ao invés de utilizar-se de práticas punitivas, potencializando a regulação emocional. A partir da orientação, os pais permitem que Daniel desenvolva habilidades de Tolerância ao Mal-Estar, Efetividade Interpessoal, Regulação Emocional e Mindfulness.

No episódio “Daniel compartilha com Margarete”, temos Daniel brincando no chão da sala de sua casa, com um livro e adesivos que ele ganhou de seu avô. Daniel diz que os acha especiais, pois são de coisas rápidas (avião, carro e barco). Ao ir colocando os adesivos no livro, ele vai construindo uma estória em que o barco e o carro querem ser amigos. “Bibi, bibi, diz o carro”, fala Daniel. A sua irmã mais nova, Margarete, se aproxima falando: “Bibi, bibi”, e tentar pegar seus adesivos. Daniel procura evitar que ela toque em seu livro e em seus adesivos, esquivando-se e dizendo para não pegar. Como não consegue pegar, Margarete começa a chorar muito alto. Seu pai se aproxima e pergunta se está tudo bem. “Diz para ela não pegar meus adesivos”, suplica Daniel ao pai.

Para mediar o conflito, seu pai responde: “Posso ver que está chateado. Porque não guarda os adesivos enquanto conversamos”. O pai segura o livro e os adesivos e questiona: “Então, a Margarete quer brincar com seus adesivos?”. “Aham, mas eles são meus”, responde Daniel. O pai confirma que os adesivos são dele e menciona que pode ser divertido brincar com os adesivos junto com a sua irmã e estimula-o para que compartilhe com sua irmã, cantando “Adoro compartilhar com você”. Mesmo parecendo chateado, Daniel compartilha seus adesivos com a irmã. Quando o pai afirma que consegue perceber que o filho está chateado, ele está validando as emoções, fornecendo uma confirmação de que aquela emoção condiz com a situação e confirmando que os adesivos são dele. Complementa que pode ser divertido tentarem brincar juntos, adotando uma postura dialética e possibilitando uma solução de problemas, em que “a ocasião pode ser alterada se a pessoa adotar passos ativos para solucionar o problema em questão”. (LINEHAN, 2018, p.317)

Ambos divertem-se brincando juntos. Daniel menciona que é divertido brincar com a irmã. O pai, retornando junto a eles, fala “Eu fico feliz em ver o trabalho de equipe de pequenos tigres. Divirtam-se”. Nisso, Margarete tenta pegar o livro, mas Daniel não quer emprestar. Novamente, o pai interfere: “Algumas coisas você não precisa compartilhar. Podemos dar algo especial para ela”. Eles guardam o livro e dão à Margarete outro brinquedo com que se divertir. Ao mencionar sua emoção em vê-los juntos e se divertindo, o pai reforça positivamente o comportamento dos filhos, pois “se” brincam juntos e “então” o pai fica feliz e eles se divertem, provavelmente irão repetir esse momento de dividir os adesivos. Essa situação exemplifica a contingência de reforço “se, então” tornando possível a probabilidade de o comportamento ocorrer novamente baseado na consequência (reforço positivo – ganho de uma recompensa). O pedido de ajuda ao pai e a dissolução do conflito possibilita que Daniel procure o pai novamente quando estiver com outros conflitos ou que ele aja de forma semelhante na solução de situação similar (reforço negativo – retirada de um fator aversivo).

Ao buscarem juntos um brinquedo que a irmã possa usufruir, não utilizando do livro que Daniel não quer dividir, proporciona a ele o entendimento que não é preciso ceder sempre ao desejo do outro, mantendo o autorrespeito de Daniel, um dos objetivos das habilidades de Efetividade Interpessoal.

No episódio “Daniel toma uma injeção”, o pequeno tigre precisa ir com a sua mãe ao médico, porém ele não quer ir. Ele terá que tomar uma injeção e está com medo. A mãe explica a importância da injeção, que irá prevenir doenças, doerá um pouco e a dor irá passar. Para ajudá-lo nesse momento, a mãe fala “feche os olhos e pense em algo feliz” e diz que quando ela está com medo, ela lembra dos dois brincando juntos e isso a ajuda a lidar com o medo. Daniel disse que irá lembrar dos passeios de bondinho. ‘Feche os olhos e tente se sentir feliz”, canta a mãe.

No módulo do Treinamento de Habilidades de Tolerância ao Mal-Estar, há a habilidade de Melhorar o momento (IMPROVE), que tem como meta não piorar a situação. A mãe de Daniel cria uma frase de efeito para que ele tenha uma estratégia para lidar com o medo: “Feche os olhos e tente se sentir feliz”, utilizando-se de imagística., fazendo-o se lembrar de sensações agradáveis, em momentos que se sentiu feliz, para lidar com um momento difícil.

Outra habilidade, desta vez de Regulação Emocional, orientada pela mãe, é a Ação Oposta, em que a ação é contrária ao impulso de ação da emoção. Explicando a importância da injeção para a prevenção de futuros problemas de saúde, permite que Daniel compreenda o fato de precisar ir ao médico, mesmo com o alarme de perigo do seu corpo, acionado pelo medo, que o orienta para não ir.

Daniel vai ao médico usando sua capa de super-herói, pois se sente corajoso assim e leva junto seu bicho de pelúcia. Na hora de entrar no consultório, ele fala para a médica que está nervoso. A médica explica que primeiro o examinará e, de forma lúdica, revisa ouvidos, boca e temperatura. No momento da injeção, Daniel se encolhe com medo. A médica o orienta a fechar os olhos e se sentir feliz. Daniel lembra-se de um passeio de bondinho. Após terminar a medicação, a médica exclama “você foi muito bem”, reforçando positivamente o comportamento de Daniel. A mãe de Daniel complementa “Você deve se sentir muito orgulhoso”. Ao terminar a consulta, a médica coloca um curativo de super-herói em cima do local da injeção, “para o Super Daniel”, explica ela.

Em outro episódio, “Daniel fica zangado”, ele está empolgado para ir à praia com seu amigo Príncipe Quarta-Feira. Eles estão animados para irem nadar e brincar na areia. Entretanto, começa a chover e não poderão sair de casa, já que podem ficar resfriados, como explicou a mãe de Daniel. “Então, não posso ir brincar na praia, isso me deixa tão zangado. Ah”, grita Daniel. O Príncipe Quarta-Feira fica zangado: “Eu também, rrrr”.

A mãe diz: “Tudo bem ficar zangado”. Esta afirmação é importante, pois ressalta que ficar zangado é condizente com a situação. “O que vou fazer agora? Estou muito zangado”, continua Daniel. A mãe o responde: “Bom, primeiro precisamos ficar calmos pra podermos descobrir o que fazer”, e começa a cantar “Se estiver zangado e quiser gritar, respire bem fundo e comece a contar, 1, 2, 3, 4”. Eles repetem a música e ficam mais calmos, mas ainda zangados. Realizam uma prática de Respiração Compassada, de Tolerância ao Mal-Estar, em que focam na própria respiração além de focar nos comandos da música para acalmarem seu estado de humor. Estar atento e consciente ao momento presente, observando a respiração, observando os sonso, é uma habilidade de Mindfulness.

A partir da prática orientada pela mãe de Daniel, conseguem criar uma brincadeira alternativa. Neste momento, eles saem do polo da mente emocional, aproximando-se da “mente sábia”. Os três estados primários da mente são: a “mente emocional”, que se apresenta quando o pensamento e as ações são controlados pelo estado emocional, os fatos tornam-se mais amplos e, até, distorcidos; a “mente racional”, que se caracteriza pela forma intelectual e lógica, atuando de forma planejada na resolução de problemas; e a “mente sábia”, uma das habilidades de DBT, que é síntese entre emoção e razão, tendo a observação, a verificação dos fatos, a experiência e a intuição a seu favor. Diante de um conflito, é necessário perguntar: “o que a minha mente sábia está me dizendo nesse momento?”.

Daniel e Príncipe Quarta-Feira resolvem criar uma praia dentro de casa, com um quadro que representa o sol, conchas que tinha guardado em um pote e areia, que havia perto da porta da casa. Quando a mãe de Daniel vê a areia espalhada pela sala fica zangada com a bagunça. Ela respira fundo, conta até 4 e se acalma. A realização da habilidade por parte da mãe reforça em Daniel que a estratégia funciona e que é para todos. “Muito bem mãe”, diz Daniel, reforçando positivamente o comportamento da mãe.

Um grande dilema para pais e, principalmente, para pais que estão tendo seu primeiro filho, é que não há um manual que venha junto à chegada da criança, que indique quais os melhores métodos a serem utilizados na educação do novo membro da família. Desenhos que possam ser assistidos pela família toda, que contenham uma mensagem sobre regras e valores de boa convivência para crianças e indicadores de atuação de disciplina positiva pelos pais, podem vir a ser um grande item junto a esse grande aprendizado que é educar um ser humano e auxiliar em sua saúde mental.


 
 
 

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